sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Autorrealizável *



Estava conversando com uma colega da faculdade e falávamos sobre algumas palavras que ela recebeu sobre seu presente e seu futuro. Ela me falava da dificuldade de crer quando pronunciam palavras e que, especificamente nesse caso, ela creu com muito temor por conta da forma como aconteceu. Ela falava sobre o temor que ela tinha de que, uma vez alguém proclamando algo que talvez não fosse a verdade, ela começasse a fazer tudo por si só para que aquilo acontecesse; no final ela ainda diria que foi Deus quem avisou e fez. Ela denominou isso, muito curiosamente, de profecia autorrealizável! O seu medo era pôr todos os dedos em algo que Deus não pusesse nenhum. É o caso de muitas pessoas, aquela velha história de “Deus avisou, Deus disse”, etc... E sair fazendo o que quer. Eu mesma já me confundi e vou dizer que é horrível.

Entendo a preocupação dela, que é muito legítima. Ela não quer cumprir algo que não seja o que Deus não falou e foi um engano, principalmente num tempo onde as pessoas confundem muito a questão do profético. Também percebo o pé atrás dela pelas palavras se tratarem de coisas grandes aos seus olhos, apesar de saber que a postura ideal a se tomar diante de situações assim sempre desafiará uma reação natural. Foi por causa da risada de incredulidade que Sara deu que ela ficou sem graça com Deus depois... É um cuidado a se tomar.

Realmente, é meio difícil julgar as profecias. E fiquei pensando sobre o que ela falou, que ela não queria que fosse algo autorrealizável - e a palavra me marcou. Foi interessante porque enquanto pensava naquilo depois, me veio a história de Abraão, que andei estudando. Algo que me chamou a atenção foi que mesmo ele tendo Ismael já há 13 anos, um filho que poderia ser o sinal da descendência anunciada, Deus continuava repetindo a promessa de que lhe daria um filho:

E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti. E darei a ti e à tua descendência depois de ti. E darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações...

E aí ele fala de Sara:

Porque eu a hei de abençoar, e te darei dela um filho; e a abençoarei e será mãe das nações, reis de povos sairão dela. Então caiu Abraão sobre seu rosto, e riu-se, e disse no seu coração: A um homem de cem anos há de nascer um filho? E dará à luz Sara com noventa anos? Então disse Abraão a Deus: Quem dera que viva Ismael diante de teu rosto!

Abraão já tinha um filho, ué!

O cara ainda procurou oferecer uma sugestão, uma solução diante da impossibilidade que Deus estava lhe dizendo... Era como se ele, a grosso modo, tivesse pensado: "Mas que idéia de jerico, meu Senhor... Abençoa Ismael que já tá aqui, e pronto.. Resolva logo essa palavra!" Ou então alguma garantia, caso algo "desse errado", ele ou Sara morressem, não sei...

E disse Deus: Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele estabelecerei minha aliança por aliança perpétua para a sua descendência depois dele. E quanto a Ismael, também tenho te ouvido; eis aqui o tenho abençoado e fá-lo-ei frutificar e fá-lo-ei multiplicar grandissimamente; doze príncipes gerará e farei dele uma grande nação. A minha aliança, porém, estabelecerei com Isaque, o qual Sará dará à luz neste tempo determinado, no ano seguinte.

Deus não avisou como tudo seria para Abraão, e talvez seja esta a hora de pensarmos que este é um dos recursos usados por Ele que nos impedem de intervirmos e estragarmos tudo na seqüência de propósitos que Ele tem.

Enquanto o tempo passa e nós desistimos ou tomamos outras providências, ele continua avisando, como se fosse algo totalmente novo, ainda não visto. Porque o é. Enquanto aquele ciclo não passar, ele não dirá algo diferente.

O fato de nos colocarmos disponíveis não significa que estamos a fim de uma promessa a todo custo. Muito pelo contrário. As palavras sempre são condicionais. A pessoa que a recebeu tem a escolha de aceitá-la na sua história ou não. O fato de aceitarmos a palavra, sendo ela do Senhor mesmo, nos abre a porta para o processo do cumprimento, mesmo quando não percebemos.

A iminência da impossibilidade fazia Abraão sofrer e o seu riso era a resistência dele diante de uma possibilidade de se frustrar. Era melhor se proteger nunca acreditando naquilo e rindo. Apesar disso, foi encontrado fé nele. E isto lhe foi imputado por justiça. Ele era antes mesmo da lei, e fez o que fez na melhor das intenções, de repente na tentativa de estar disponível para cumprir o que Deus lhe anunciara. Isso lhe custou algumas coisas, gerou conseqüências e desgastes, mas em nenhum momento Deus voltou atrás na palavra que havia anunciado ao seu amigo, na verdade só foi acrescentando informações ao longo do caminho. Abraão riu, não entendeu nada diversas vezes, sugeriu coisas, se meteu onde não devia... Mas em nenhum momento ele conseguiu ferir a promessa que Deus havia feito para Ele. Porque Deus encontrou em seu coração algo essencial: fé nEle.

Então, a minha conclusão pessoal é: não, as verdadeiras palavras que Deus pronuncia a nosso respeito nunca serão “autorrealizáveis”. Mas dependem de um coração disponível, aberto a vivê-las. Podemos não entender tudo, ou achar que nada está andando, mas as coisas se cumprem como Ele quer, e elas também acontecem quando não estamos vendo.

“Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o santo que há de nascer será chamado Filho de Deus. E Isabel, tua parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o sexto mês para aquela que diziam ser estéril. Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas. Então disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra. E o anjo se ausentou dela. (...)

Então disse Maria: Minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, pois desde agora todas as gerações me considerarão bem aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome. (...) Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais."

Lucas 1: 35-38 ; 46-49 ; 54–55.

* De acordo com a nova regra gramatical, para palavras compostas onde a segunda palavra se inicia com R, o hífen cai e repete-se o R, unindo as duas palavras

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