sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Meu pai.





Deus nos dá modelos naturais para que possamos entender como se ocorre espiritualmente. (Anderson Bomfim)

Meu pai tem trabalhado muito ultimamente. Às voltas com a chegada da minha irmã mais velha em casa, ele se empenha em deixar tudo pronto. Apesar da idade, meu pai sempre se esforça para atender a todas as demandas. Hoje, ele instalou uma nova pia no banheiro, a antiga havia quebrado. Amanhã, ele vai colocar uma persiana, depois vai fazer compras e mais tarde vai me deixar em um lugar pra passar o reveillon com amigos. Semana que vem, ele vai mexer no carro que eu, mais uma vez, comprometi (porque "quebrar" é um verbo muito forte).

Mesmo que demore horas, tem coisas que ele gosta de resolver naquele espaço de tempo e não adia. Tem outras coisas que ele já acha que pode esperar mais um pouquinho.. Como por exemplo, o carro que eu queb.. Digo, comprometi levemente. Afinal, eu tenho que arcar com uma vida mais limitada se não fui responsável com o benefício que ele me deu. Logo, o carro foi pro fim da fila. Mesmo assim, meu pai tem me levado pra qualquer lugar, longe ou perto.

Meu pai está sempre observando as coisas. Ainda que não pareça, ele tem uma opinião sobre os assuntos. Mas algumas ele só vai me dizer se eu perguntar. 

Eu às vezes sou bem diferente do meu pai. E ultimamente tenho chegado à conclusão que, apesar de ele ser o mais velho, quem fica cada vez mais chata sou eu. Ele é tranquilo. Eu não entendo quando ele se mostra oposto ao que eu gostaria, mas é que no fundo, ele só me quer por perto. 

Quando ele fica doente, me dá instruções práticas. Quando teve a possibilidade de morrer, também me avisou algumas coisas. Ele se preocupa com o que tem que ser feito. Se eu estou no sofá fazendo a unha e peço água, ele traz. Se estou no sofá doente e peço água, ele traz. Se estou vendo televisão no sofá e peço água, ele traz. 

Pode ser em cima da hora, ele me dá carona. Pode ser em cima da hora, ele me busca.
Quando saio de casa, meu pai me manda torpedos engraçados sobre como devo dirigir quando está chovendo. Ele também me manda torpedos perguntando se está tudo bem ou se ainda volto pra casa.

Meu pai canta alto de manhã cedo e faz gracinhas. Seu humor é imbatível às 9h da manhã. Ele me dá bom dia sorrindo mesmo vendo minha cara mal humorada escovando o dente, sem respondê-lo. E mesmo que eu já trabalhe, ele me dá dinheiro. Ele pode até reclamar, mas reclama sorrindo. Eu nunca vi...

Meu pai conserta as coisas quebradas dos meus amigos. Eu falo pra eles que meu pai conserta as coisas e eles pedem ajuda. Eu devolvo direitinho. Quando eles perguntam se meu pai poderia consertar isso ou aquilo outro, eu digo com certo orgulho: "meu pai conserta qualquer coisa, deixa comigo que ele vai consertar." 

Meu pai conhece as palavras. Ele gostava de pesquisar no dicionário. Se tinha dúvida do que aquilo significasse, eu perguntava pra ele. Meus amigos também faziam o mesmo quando estavam com ele.
Meu pai já deu aula de matemática, física, canto, etc. Meu pai gosta muito de conversar com pessoas jovens. 

Meu pai sempre me diz: "se está em dúvida, espere." De alguma forma, ele me ajuda nas minhas ansiedades.
Meu pai sempre me disse que a parte dele é me dar as ferramentas necessárias pro que eu quiser fazer. Ele me encoraja bastante. Se eu saio pra realizar algo e o convido pra ir comigo, ele também se anima e vibra com as possibilidades. Meu pai é um incentivador. 

Ele geralmente acha as coisas que eu faço mais importantes do que eu mesma. E conta pra todo mundo. Quando eu mudo de emprego, meus vizinhos já sabem e eu descubro isso depois, na conversa do elevador. Meu pai não tem dificuldade em reconhecer minhas habilidades. 

Quando eu casar, com certeza ele vai chorar. Ele é um cara sensível.

Meu pai às vezes fica triste comigo. Eu não gosto de deixá-lo assim. Mas acho que no fundo, tudo se desfaz quando me vê sendo uma pessoa melhor. Eu tento de alguma forma animá-lo, lembrando que o que ele está fazendo não está sendo vão, como, por exemplo, com esse simples relato sobre quem ele é nesses últimos meses que passamos juntos. 

Quero sempre reconhecê-lo e honrá-lo por tudo que ele fez por nós aqui e pelo que ele é. 



Meu pai tem trabalhado muito ultimamente. Às voltas com a chegada da minha irmã mais velha em casa, ele se empenha em deixar tudo pronto.

Deus nos dá modelos naturais para que possamos entender como se ocorre espiritualmente. (Anderson Bomfim)

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